Convidamos o Jay, Analista de Recursos Humanos aqui na Social Miner, para falar com a gente sobre diversidade e inclusão LGBT+ nas organizações. Vem ver!
“Antes de começar a falar sobre o RH e inclusão, acho importante me apresentar: meu nome é Jair ~mas pode me chamar de Jay~, tenho 26 anos e sou um homem cis, negro e gay, que cresceu na Zona Leste de São Paulo – conhecida como uma região periférica da cidade.
E por que eu acho que essas informações são relevantes? Porque quem eu sou e as minhas origens refletem diretamente em como eu me relaciono com o meu trabalho. Seja hoje, no papel de Analista de Recursos Humanos na Social Miner, ou nos outros cargos que ocupei antes de chegar aqui.
Apesar de ser, originalmente, formado em Publicidade e Propaganda, com o tempo o assunto de diversidade começou a ficar cada vez mais próximo da minha realidade. Especialmente quando eu comecei a questionar meu papel dentro das empresas e como outras pessoas se encaixavam nos ambientes de trabalho em que transitei durante esses anos.
Por isso, já vou te dar um spoiler desse texto: minha intenção aqui não é de trazer um caminhão de dados quantitativos ou mostrar “como a sua empresa pode crescer e melhorar o seu negócio através de projetos de diversidade”.
Meu objetivo é abordar a questão ética ligada a diversidade e a realidade do nosso país, além de trazer um olhar humano para a inclusão nos ambientes de trabalho.
Um breve cenário histórico
A luta LGBT+ por direitos não começou agora. Na verdade, de acordo com a Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, Regina Facchini, ela remete aos anos de 1940, com o nascimento da primeira organização voltada às questões da homossexualidade, em Amsterdam. Chamado de Center for Culture and Recreation, eles editavam mensalmente a Levensrecht, uma publicação que, em tradução livre, significa “Direito de viver”.
Já no Brasil, o movimento nasce no final dos anos 1970 num contexto de “abertura” política que anunciava o final da ditadura militar. Regina divide a trajetória do movimento em três fases:
– num primeiro momento, de 1978 a aproximadamente 1983, as propostas eram de transformação para o conjunto da sociedade. O objetivo era abolir vários tipos de hierarquias sociais, especialmente as relacionadas a gênero e a sexualidade.
Grupos de afirmação homossexual, como o Somos, e publicações, como o jornal Lampião da Esquina, eram espaços de afirmação da diversidade sexual, promovendo a reflexão sobre a submissão a uma sociedade sexista. Esse período também é palco dos primeiros encontros e passeatas organizadas.
– a segunda fase, que vai de 1984 a 1992, é marcada pela liderança do movimento numa resposta coletiva eclosão da epidemia de HIV/Aids. De acordo com a especialista, diante do crescimento dos casos da doença e da demora num projeto governamental, “os militantes homossexuais foram os responsáveis pelas primeiras mobilizações contra a epidemia, tanto no âmbito da assistência solidária à comunidade, quanto na formulação de demandas para o poder público”.
Nesse contexto, apesar da queda no número de grupos, o movimento ganha visibilidade e se dedica a uma “ação mais pragmática e voltada para a garantia dos direitos civis e ações contra discriminações e violência”.
– por fim, a terceira onda do movimento, que vem de 1992 até os dias de hoje, foi marcada pela fundação da primeira e maior rede de organizações LGBT brasileiras, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), que passa a promover “uma série de ações no âmbito legislativo e judicial, orientadas para acabar com diferentes formas de discriminação e violência contra a população LGBT”.
Deste modo, o movimento vem buscando avanços no combate a discriminação através da construção e fortalecimento de Frentes Parlamentares, da elaboração e proposição de projetos de lei e do apoio de associações profissionais, como os conselhos de Psicologia e de Serviço Social.
É importante destacar também que esta terceira fase tem por característica a diferenciação dos múltiplos grupos que compõem o movimento – lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Portanto, se, como destaca Regina, as bandeiras de luta contra a discriminação e a violência e pelo respeito à laicidade do Estado unem os diferentes segmentos que compõem o movimento LGBT, as demandas específicas de cada um dos coletivos também criam novas frentes na luta por direitos.
Esse é o caso de travestis, tem no acesso e garantia da educação uma de suas maiores reivindicações, e que se unem também a transexuais na busca por adequação da identidade jurídica (mudança de prenome) e a possibilidade de uso e reconhecimento do nome social em serviços de saúde, escolas, entre outros, como no mercado de trabalho.
É nesse ponto, inclusive, que as empresas comprometidas com a diversidade e inclusão se destacam, dando atenção ao movimento trans, trabalhando ativamente para incluir nos seus times uma comunidade que por muitos anos foi marginalizada e hoje luta pela igualdade de direitos.
A diversidade no mercado de trabalho
Tendo como base esse panorama histórico do movimento LGBT+, sua crescente visibilidade e presença social e política, não é surpresa que a discussão sobre diversidade e inclusão esteja cada vez mais presente nas organizações. E isso é ótimo por si só.
Mas quando falamos dessa comunidade, precisamos pensar nas suas interseccionalidades: um homem cis, branco e gay, por exemplo, passa por situações diferentes daquelas experienciadas por uma mulher trans e negra.
Por isso é tão importante saber ouvir e fazer a crítica sobre privilégios dentro das empresas e inclusive – como destaca o educador Reinaldo Bugarelli em entrevista a Matheus Pichonelli, da UOL – dentro dos próprios grupos de afinidade e diversidade criados nas organizações.
É nesse momento que o RH tem uma responsabilidade grande no negócio, pois é a área que representa a empresa – seja no recrutamento de novos colaboradores, até nas ações de cultura e desenvolvimento.
É essencial, portanto, que essas ações de diversidade comecem pelos profissionais de Recursos Humanos e sejam, depois, consolidadas nas outras áreas, além das lideranças.
E, para iniciar um projeto do tipo, é essencial estudar sobre o assunto, trazer para perto pessoas que hoje são referência no tema, além de encontrar outros aliados na empresa que se conectam com o assunto e que podem ajudar nesse desenvolvimento.
Além disso, é necessário conscientizar todos sobre as vantagens coletivas de projetos de diversidade e inclusão. E uma forma muito legal de se fazer isso é conectando o assunto com os valores da empresa. Dessa forma, o processo de reconhecimento da importância de se discutir isso no ambiente de trabalho se torna mais orgânico e efetivo.
Vencendo barreiras
É importante lembrar que quando uma empresa decide trabalhar com diversidade, essa transformação não vai acontecer de um dia para o outro. E quando eu escrevo isso, não quero dizer que nós, na Social Miner, estamos acima de outras nessa questão…estamos todos aprendendo no trajeto.
Mas se inclusão é uma das metas da sua empresa, acredite, tem muita gente incrível por aí querendo ajudar no processo. Inclusive eu separei algumas organizações com abertura para serem parceiras nesse trabalho:
TransEmpregos
O TransEmpregos é um dos primeiros projetos de empregabilidade Trans do Brasil. A organização faz a ponte entre instituições e pessoas trans, além de atuar na capacitação das empresas para que recebam esses profissionais de forma mais inclusiva.
Reprograma
A iniciativa de impacto social Reprograma foca em ensinar programação para mulheres cis e trans que não tem recursos e/ou oportunidades para aprender a programar.
PrograMaria
Assim como o Reprograma, a PrograMaria também tem a intenção de empoderar mulheres cis e trans por meio da tecnologia e ajudá-las a se inserir neste mercado de trabalho que hoje ainda é muito masculino.
Esses são apenas alguns programas que foram criados para ajudar a comunidade trans na hora de se inserir no mercado de trabalho e contribuir para levar essa discussão para dentro das organizações e startups. Mas acredite, assim que você mergulhar nesse assunto, vai descobrir muitas outras.
E na sua companhia, já existem projetos focados em diversidade? Compartilha com a gente e vamos trocar experiências para ajudar que isso se espalhe cada vez mais nas pequenas, médias e grandes empresas brasileiras!”
Jay